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O Alfabeto Hebraico

Letras hebraicas

A língua hebraica é escrita com um alfabeto bastante diferente do que nós usamos no português. O “alef-beit”, como é conhecido o alfabeto hebraico, é composto pelas 22 letras que são usadas para escrever o hebraico.

A língua portuguesa, assim como outras línguas ocidentais, como inglês, espanhol, francês, italiano, etc, é escrita com o alfabeto latino, que era o alfabeto que os romanos usavam para escrever a língua deles, que era o latim. O alfabeto latino acabou sendo adotado por todas estas línguas modernas, inclusive o português.

Mas antes do alfabeto latino existir, já existiam várias outras formas de escrever, usadas em várias línguas no mundo todo.

Para entender melhor a origem do alfabeto hebraico, vamos entender um pouco sobre a origem da escrita, e a história dos alfabetos.

Um pouco da história da escrita

Quando a escrita foi inventada, inicialmente os povos criaram símbolos para representar ideias ou palavras.

Por exemplo, a antiga escrita egípcia, ou mesmo a escrita chinesa ou japonesa, que são usadas até hoje, foram inventadas para funcionar da seguinte maneira:

Cada símbolo representa uma palavra, ou uma ideia. Isto quer dizer que para cada palavra você deveria aprender um símbolo diferente.

Para escrever “árvore”, por exemplo, você aprenderia um símbolo que representaria uma árvore. Para escrever cachorro, teria um símbolo para o cachorro. Amor, felicidade, justiça, céu, terra, homem, mulher… cada palavra tem um símbolo.

hieróglifos

Estes são tipos de escrita extremamente complexas, que exigem aprender milhares de símbolos diferentes.

Com o passar do tempo, alguns povos resolveram inventar uma escrita mais simples: a escrita fonética.

Isto quer dizer que cada símbolo representaria um som, ao invés de uma palavra. Assim, com alguns poucos símbolos seria possível escrever todas as palavras. Cada letra é um som, bastaria juntar os sons e formar as palavras.

A ideia foi a seguinte: um “desenho” que antes representava uma palavra, passaria a representar o som com que a palavra começava. Selecionaram alguns símbolos, o símbolo de uma palavra para cada som que existe na língua.

Vamos imaginar um exemplo: Imagine que você fosse inventar o alfabeto hoje, baseado na língua portuguesa. Imagine que na língua portuguesa nós usamos “pictogramas”, ou seja fazemos desenhos para representar cada palavra. Então você decide inventar um alfabeto fonético para simplificar a escrita.

Você quer inventar uma letra para o som de “M”. Você escolhe uma palavra qualquer que começa com este som.

Por exemplo, você poderia escolher a palavra “macaco”.  Então você pegaria o desenho do macaco, e criaria a letra “macaco”, que seria usada para representar o som “m”. Assim em todas as palavras que aparecesse este som, apareceria o desenho do macaco. A partir de agora o desenho do macaco não representaria mais o macaco, mas apenas o som de “M”.

Você escolheria uma palavra para cada som. Como existem poucos sons na fala, apenas uns vinte e poucos, a partir de agora, ao invés de usar milhares de símbolos, você só usaria vinte e poucos, o que seria suficiente para escrever qualquer coisa.

Consegue ler esta “palavra”?

É como se fosse um jogo de criança, mas foi mais ou menos esta a ideia usada para se criar a escrita fonética. 

Os primeiros alfabetos fonéticos foram inventados pelos povos semitas. Eles teriam adaptado os complicados “desenhos” egípcios, transformando-os numa escrita fonética simples. Esta escrita fonética semita é chamada de escrita “protossinaítica”, porque foi descoberto na região do Sinai.

Alfabeto proto-cananeu
Escrita Protossinaítica

Deste alfabeto semita original, que parecia mais com desenhos egípcios, saíram vários alfabetos.

Aconteceu que, com o passar do tempo, estas letras foram sendo modificadas.

Vamos voltar ao nosso exemplo do alfabeto que você inventou para o português, e imaginar novamente o “macaco” que você desenhou.

Com o passar das gerações, as pessoas achavam o seu “macaco” um tanto pitoresco, complicado, talvez até muito infantil ou ingênuo. Ninguém queria mais desenhar um macaco um monte de vezes no meio do texto, ou ler aqueles textos cheios de desenhos de bichos. Então as pessoas começaram a modificar o desenho do macaco que você tinha inventado, até virar um símbolo totalmente diferente, que representaria o som “m”, mas que não teria mais nada a ver com o desenho do macaco.

(O macaco é só um exemplo, não tem nada a ver com a origem da letra “m” em nenhum idioma).

Dos “desenhos”  protossinaíticos ao presente

Daquele alfabeto “protossinaítico”, ainda com desenhos parecidos com a escrita egípcia, surgiram vários alfabetos, como o famoso alfabeto fenício, o alfabeto aramaico e o alfabeto hebraico.

O alfabeto hebraico antigamente ainda era escrito diferente do que nós conhecemos hoje. Esta forma mais antiga do alfabeto hebraico é  chamada de alfabeto “Páleo-Hebraico“, que é mais parecido com o alfabeto fenício.

Depois da época do exílio babilônico, os judeus passaram a escrever as letras mais parecidas com o alfabeto aramaico, que se assemelha mais ao  atual.

Os manuscritos do mar morto, que são os manuscritos mais antigos da Bíblia hebraica que se conhece, do século II A.C., são escritos com letras bem mais parecidas com as que nós usamos hoje.

Todos estes alfabetos são, na verdade, as mesmas letras, com os mesmos nomes e mesmos sons, mas “desenhados” de forma diferente. 

Alfabeto páleo-hebraico, aramaico e quadrático

A forma como o hebraico é escrita atualmente, é chamada de “Alfabeto quadrático”. 

Enfim, este é o alfabeto hebraico como nós conhecemos hoje:

 
Um “pequeno” detalhe
 

Mas… voltando a falar do alfabeto fonético inventado pelos semitas, este tinha algumas limitações: só representava as consoantes (com exceção de uma vogal ou outra em alguns casos). As vogais você teria que deduzir pela palavra.  Assim é o alfabeto hebraico também.

Imagine que a língua portuguesa fosse escrita assim:

“N PRNCPO CRO DUS OS CS E A TRA. A TRA PRM ESTV SM FRMA E VZIA. HVI TRVS SBR A FC D ABSM E O SPRT D DUS PIRV SBR A FC DS AGAS”.

A ideia é mais ou menos esta.

Consegue ler o texto acima?

Provavelmente sim, porque você conhece bem a língua portuguesa, e possivelmente também conhece este texto. Você consegue “adivinhar” as vogais, porque você conhece as palavras.

Mas alguém que não sabe português nunca conseguiria ter ideia de como pronunciar estas palavras.

Foi deste jeito que criaram o alfabeto hebraico, e os outros alfabetos semitas.

Afinal de contas, a ideia deles era que alguém que vai ler uma língua, necessariamente sabe falar aquela língua.

Só depois é que outros povos inventaram outros alfabetos com vogais, como o alfabeto grego e o alfabeto latino, que você conhece bem.

Mas quanto ao hebraico, você teria que saber a língua para poder ler.

A Solução

Acontece que chegou um tempo em que o hebraico já não era mais falado no cotidiano. A maioria dos judeus já não sabiam falar o hebraico, mas o usavam  na liturgia, nas orações, e na leitura da Torá.

Aí surge o problema: Como alguém que não sabe falar o hebraico fluentemente poderia ler palavras cujas vogais deveriam ser “adivinhadas”?

Como você, hoje, que não sabe falar hebraico, e pretende aprender, poderia aprender a ler?

Por isto,  chegou um tempo em que os judeus criaram uns sinais especiais, além das letras, para representar as vogais. Alguém teve a ideia de acrescentar as vogais nos textos em hebraico, para que a pronúncia não fosse perdida, e qualquer pessoa pudesse ler.

No próximo artigo, falaremos exatamente sobre isto, sobre as vogais hebraicas.

Mais um detalhe importante também, o hebraico se escreve da direita para a esquerda, exatamente o contrário da língua portuguesa e das outras línguas ocidentais.

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